Dinheiro na Mão é Vendaval. por Arthur Muhlenberg |
categoria A Fila Anda, Rubro Negrismo Racional
Brocador pode estar indo embora. Não,
espera, me deixa reformular: Brocador deve estar indo embora. A oferta
do Al Jazira de 6 milhões de Euros, quase 20 milhões de reais, é
pornográfica. Para os mais conservadores e financeiramente pudicos é uma
proposta irrecusável, posto que dinheiro não admite desaforos. Se pra
mim, que não tenho nada a ver com o inquérito, a simples menção de tal
dinheirama excita instantaneamente é fácil prever o estado priápico dos
envolvidos diretamente na transação.
De um lado da mesa de negociação está o
Al Jazira, presidido pelo Emir Hamdam Al Nahyan, que também controla o
Manchester City na Premier League inglesa, um oásis de afluência e
liquidez diante dos desérticos orçamentos do clubes brasileiros. Estão
também os stakeholders da Hernane Brocador Inc., zelando pelos
interesses do próprio Hernane e dos seus empresários, agentes, parentes e
aderentes. Do outro lado da mesa está o Flamengo e seu já tradicional
déficit operacional que há décadas colore de vermelho vivo nossos
livros-caixa.
Ora, é só dar um confere nos saldos em
conta das partes para se ter a certeza absoluta de que não existe a
menor possibilidade dessa operação de compra e venda não chegar a um bom
termo. Salvo uma improvável e temerária recusa de Hernane em se
transferir para os Emirados Árabes o Flamengo simplesmente não tem bala
para impedir que o negócio se concretize. Sem esquecer que os 3 milhões
de euros aos quais o Flamengo tem direito no rolo seriam um reforço de
caixa mais do que providencial em um ano em que não há a menor previsão
de desaperto no cinto. Muito pelo contrário.
Agora, veja o lado do Hernane. Por mais
que ame o Mengão e se sinta em casa na Gávea e no Maracanã, ele não pode
simplesmente virar a cara para a oferta que pode significar a sua
independência financeira. Só ele é que sabe como era duro o osso que
roeu até conseguir ser o artilheiro do Brasil em 2013. Ele e sua galera,
que o apoiaram enquanto ele subia vagarosamente a escadinha em direção à
laje, sabem perfeitamente que o futebol é momento e que nada garante
que ofertas melhores surjam no futuro. A hora é essa e o cavalo
encilhado não costuma passar duas vezes. Minha opinião é de que Hernane
está 100% a fim de ir embora. No que ele está 150% por certo.
Mas para a diretoria do Flamengo as
porcentagens de certeza não devem ser as mesmas, porque em anexo ao
polpudo checão de Petroeuros existe um alto custo político. Não é fácil
vender o artilheiro do time às vésperas da mais importante competição do
clube em 2 anos. Uma decisão que não granjeia qualquer popularidade. A
torcida não quer nem saber o que essa grana vinda das areias escaldantes
pode significar no combalido orçamento do Flamengo. A torcida quer ver
gol e título, não importam os meios empregados para tal. E não ficará
nada satisfeita se a tarefa de substituir o Broca D’Or na Libertadores
seja delegada ao recém chegado e já controvertido Alecsandro.
Administrar é tomar decisões,
baseando-se não apenas no está acontecendo agora, mas, principalmente,
no que essa decisão significará no médio e no longo prazo. Por melhor
que seja a oferta é um tremendo risco abrir mão de um artilheiro
identificado com a torcida e em grande fase. Pensar apenas no dinheiro
numa hora dessas é um erro primário.
Mas, por outro lado, não há a menor
garantia de que em 2014 a bola vá continuar entrando depois de tocar as
canelas ungidas do Brocador e nem de que ele venha a ser a grande
estrela da Libertadores. Como recusar uma proposta de 3 milhões de euros
e continuar se olhando no espelho quando se deve mais de 600 milhões de
reais na praça? Como se vê, há muita incerteza e muitas
imponderabilidades na ingrata função de administrar a paixão de tantos.
Não gostaria de ser o cara que vai bater esse martelo.
Mas seja quem for há que tomar cuidado
redobrado com as ideias brilhantes para a utilização da grana que pode
entrar no caixa. Pegar o dinheiro da venda de Hernane para comprar
metade de Elias me parece ser roubada. É como vender a flecha pra
comprar um arco, negócio de português. Entendo que nos atuais valores
pedidos pelo Sporting o custo do Elias está acima das nossas
possibilidades e não me parece ser coisa de boa administração desprezar
um principio gerencial básico só porque apareceu um dinheiro inesperado.
Sofremos bastante em 2013 por
subordinarmos nossas ambições em termos de elenco aos estritos limites
do nosso fôlego financeiro. Seria uma espécie de traição abandonar uma
cultura administrativa pé no chão apenas um ano depois de implanta-la só
porque vamos jogar a Libertadores. Se o Flamengo está no alto da
pirâmide alimentar tem obrigação de enxergar mais longe que os outros.
Vencer a Libertadores 2014 seria muito importante, mas muito menos
importante do que jogar a Libertadores de 2015, 2016 e 2017.
O mundo gira, a fila anda e o Flamengo
já sofreu perdas mais sentidas e não precisou fechar as portas e nem se
apequenar. Se para que amanhã o Flamengo ocupe seu lugar de direito no
futebol mundial tivermos que abrir mão hoje do Brocador, do Elias, do
Adryan ou de qualquer outro talento, que assim seja. Boa sorte para
todos. O Flamengo tem que vir sempre em primeiro lugar. Com ou sem
dinheiro.
Mengão Sempre
Categoria: entretenimento

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